Miguel é um nome atribuído na Bíblia a um anjo ou arcanjo, numa posição de líder de exércitos celestiais. É um dos três anjos mencionados por nome na Bíblia, juntamente com Rafael no livro de Tobias e Gabriel no evangelho de S.Lucas, e é o único chamado de arcanjo.
Significado do nome
O significado é motivo de debate. A maioria das denominações cristãs entendem que o nome deverá ser traduzido em forma inquisitiva, tal como "Quem é como Deus?"[1] ou "Quem é semelhante a Deus?"[2] . Outros defendem que seja uma afirmação: "Aquele que é como Deus", argumentando que o sufixo "el", que significa "Deus", é usado em outros nomes bíblicos em forma de afirmação, tal como em Daniel ("Meu juiz é Deus"), Emanuel ("Connosco está Deus"), Ezequiel ("A força de Deus"), Samuel ("Nome de Deus") ou Gamaliel ("Recompensa de Deus"). Esta última interpretação é, segundo distintos peritos, tal como se refere mais acima, posta em causa pela própria Bíblia, quando a mesma nega que haja quem seja como Deus (cf., por exemplo, Salmo 35:10; 89:8), donde, pela própria configuração do nome "Miguel", o mais certo é que o mesmo deva ser traduzido como sendo uma questão.
Referências na Bíblia
O nome Miguel é escassamente referido na Bíblia, surgindo apenas nos versículos baixo, segundo a tradução A Bíblia de Jerusalém:
Daniel 10:13
"O Príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias, mas Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu auxílio"
Daniel 10:21
"Ninguém me presta auxílio para estas coisas senão Miguel, vosso Príncipe."
Daniel 12:1
"Nesse tempo levantar-se-á Miguel, o grande Príncipe, que se conserva junto dos filhos do teu povo. Será um tempo de tal angústia qual jamais terá havido até aquele tempo, desde que as nações existem. Mas nesse tempo o teu povo escapará, isto é, todos os que se encontrarem inscritos no Livro."
Judas 9
"E, no entanto, o arcanjo Miguel, quando disputava com o diabo, discutindo a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a pronunciar uma sentença injuriosa contra ele, mas limitou-se a dizer: O Senhor te repreenda!"
Apocalipse ou Revelação 12:7
"Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu."
Nos apócrifos
No livro de Enoque Miguel é designado como o príncipe de Israel. No livro dos Jubileus, ele é retratado como o anjo que instruiu Moisés na Torá. Nos Manuscritos do Mar Morto é retratado lutando contra Beliel.
Definição da Igreja Católica e do Protestantismo
A vitória de São Miguel sobre o demónio, escultura por Sir Jacob Epstein perto da entrada da Catedral de Coventry, no Reino Unido.Miguel, o Arcanjo, é considerado o chefe dos exércitos celestiais e o padroeiro da Igreja Católica. É o anjo do arrependimento e da justiça. É comemorado pela Igreja Católica, sob o nome de São Miguel Arcanjo em 29 de setembro.
O Catolicismo mantém uma considerável devoção por São Miguel Arcanjo, especialmente demonstrada nas situações em que são efectuados pedidos de livramento dos seus fiéis contra ciladas do demônio e dos espíritos maléficos. Acredita ainda que, durante as orações, e quando o nome do arcanjo é invocado, este defenderá os crentes, com o grande poder que Deus lhe concedeu, protegendo-os contra os perigos, as forças do mal e os inimigos.
A escassa referência das Escrituras à pessoa de Miguel é considerado por alguns como uma demonstração de discrição ou importância relativa que envolve a sua figura. Nas menções efectuadas no livro de Daniel, os teólogos dividem-se acerca da interpretação dessas passagens. Alguns crêem ver neste Miguel aquele que mais tarde Judas designa por "Arcanjo". A maioria, porém, acredita que nestes versículos, Miguel é apenas uma figura que, de acordo com a crítica bíblica, é proveniente da mitologia Persa com a qual o povo Hebreu contactou aquando do seu Exílio na Babilónia e não identificável com o Anjo com o mesmo nome.
Na referência de Judas, alguns entendem que não é atribuída a Miguel a faculdade de juiz escatológico, reservada a Deus e ao seu Messias, na medida em que ele entrega o Diabo ao juízo de Deus. Nem para os católicos nem para os protestantes é aceite a interpretação, feita por algumas denominações religiosas que se afirmam cristãs, de que neste texto se trataria do Filho de Deus antes de lhe ser dada autoridade régia visto que, segundo algumas teses destas denominações, esta passagem relembraria um acontecimento muito anterior à época em que Jesus veio à Terra e foi posteriormente ressuscitado. Na realidade católicos e protestantes, a respeito desta última hipótese, contrapõem "que este combate descrito ("related") neste livro, que de acordo com a sintática rigorosa do texto (nomeadamente o uso da construção οτε ("ote") mais dativo seguido de περι ("peri") mais genitivo neutro) não é situável num tempo passado e que, assim, ainda não ocorreu em seu sentido pleno. [...] O resgate ("recovery") do corpo "soma", e não do cadáver, de Moisés referido no texto não é senão aquele que ocorrerá no futuro escatológico" (Geerhardus Vos, "Biblical Theology", p. 121-123). De igual modo, acrescenta este autor, "a referência a verbos em tempos passados - "διακρινομενος" ("diakrinomenos": "contendia"), "διελeγeτο" ("dielegeto": "disputava") e "ουκ etoλμησeν eπeνeγκeιν" ("ouk etolmesen epevegkein": "não ousou pronunciar") - provém do facto de este versículo ser a citação de um texto apócrifo de natureza apocaliptico-visonária onde o autor (como todos os autores deste género literário), imaginando-se como tendo sido transportado até ao fim dos tempos, olha para trás ("backwards") para acontecimentos supra-temporais (isto é, posteriores ao fim dos tempos) "anteriores" à consumação final" (Geerhardus Vos, "Biblical Theology", p. 122).
Outras perspectivas religiosas
O arcanjo Miguel representado numa moeda bizantina.Ao contrário das posições acima referidas, algumas denominações religiosas, que também se intitulam cristãs, identificam Miguel como sendo o próprio Jesus Cristo ou como uma representação dele. O raciocínio que os leva a crer que Miguel é apenas um outro nome para Jesus Cristo, baseia-se nas seguintes premissas:
Arcanjo
Na carta de Judas, no versículo 9, Miguel é designado como "o arcanjo" termo que significa "anjo principal". Esta é a única ocorrência bíblica de alguém ser chamado de "o arcanjo" o que, segundo alguns, sugere que existe apenas um anjo assim. De facto, a palavra "arcanjo" ocorre na Bíblia apenas no singular, nunca no plural. Além disto, o cargo de arcanjo se relaciona com Jesus. Sobre o ressuscitado Senhor Jesus Cristo, 1 Tessalonicenses 4:16 diz:
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu, com alarido e com voz de arcanjo." (Tradução J. F. Almeida)
A voz de Jesus é descrita aqui como sendo a voz de arcanjo. Portanto, para alguns, esse texto indica que o próprio Jesus é o arcanjo Miguel, pois, na sua interpretação, aquele a quem foi designado o dever de ressuscitar os fiéis mortos, não desceria do céu com uma voz que expressasse uma autoridade menor do que a que realmente teria. Ou seja, sendo Jesus o próprio Deus e, portanto, superior a um arcanjo, esta declaração bíblica o compararia com uma criatura inferior. Assim, argumentam, o versículo apresenta a Jesus como sendo realmente o arcanjo, ou anjo principal, com autoridade acima de todas as criaturas.
Líder militar
Segundo os textos bíblicos, Miguel e seus anjos batalharam contra o dragão e seus anjos. (Revelação ou Apocalipse 12:7), de modo que Miguel é descrito ali como o líder de um exército de anjos fiéis. O mesmo livro também se refere a Jesus como líder de um exército de anjos fiéis, no capítulo 19, versículos 14 a 16, sendo que o apóstolo Paulo menciona especificamente o "Senhor Jesus" e os "seus anjos poderosos" (2 Tessalonicenses 1:7), pelo que é possível concluir que, na Bíblia, existem referências tanto de Miguel e "seus anjos" como de Jesus e "seus anjos". (Mateus 13:41; 16:27; 24:31; 1 Pedro 3:22)
No entanto, e uma vez que nos textos bíblicos em nenhuma parte é indicada a existência de dois exércitos de anjos fiéis no céu, um comandado por Miguel e outro por Jesus, existem observadores que sugerem a conclusão de que Miguel não é outro senão o próprio Jesus Cristo na sua posição celestial.
Esta conclusão, não obstante, é tida como sendo muito débil por um não menor número de peritos que afirmam que em nenhuma parte, nos textos bíblicos, se nega a referida existência de dois exercitos - Christoph Blumhardt - "Vom Reich Gottes. Aus Predigten und Andachten", p. 137 - ou que sejam um mesmo exercito «com dois chefes, um dos quais - Miguel - subordinado ao outro - Jesus -, tal como dá a entender o facto de ter sido Deus e não Miguel a condenar Satanás» - Paul Kleinert - "Die Propheten Israels in sozialer Bezichung", p. 78 -.
Entretanto, esta referência bíblica (Judas 9) de Deus (supostamente o Pai) e não Miguel (supostamente o Filho) repreendendo Satanás "O Senhor te repreenda" não é a única na Bíblia. Encontramos em Zacarias 3:2 o seguinte texto: "Mas o SENHOR disse a Satanás: - O SENHOR te repreende, ó Satanás; sim, o SENHOR, que escolheu a Jerusalém, te repreende".
Aqui em Zacarias 3:1 menciona o Anjo do SENHOR. Trata-se do próprio Deus. O mesmo título dado a Deus como "Anjo do SENHOR" é dado em Gênisis 22:15. Isto leva a crer que a sugestão de que Miguel é Jesus Cristo não é tida como sendo tão débil.
Com base nestes argumentos algumas denominações cristãs desenvolveram as seguintes doutrinas:
A denominação cristã não trinitária das Testemunhas de Jeová, acredita que Jesus e Miguel são a mesma pessoa, a primeira a ser criada directa e exclusivamente por Deus. Crê também que o nome "Jesus" foi usado na terra por aquele que já existia no céu na posição de Arcanjo, sendo que nesta posição celestial gloriosa teria o nome de Miguel. Segundo as suas doutrinas, as Testemunhas não aprovam a adoração de qualquer criatura ou ser terrestre ou celestial, crendo que a devoção dever ser dirigida em exclusivo ao Criador.
Os adventistas crêem também que Miguel é Jesus, Ellen White, assim como os demais fundadores da IASD acreditaram na doutrina trinitária. Atualmente os adventistas crêem em Miguel sendo Jesus plenamente Deus, ja que a trindade se tornou a doutrina oficial da igreja.
Muitos outros téologos protestantes também ensinavam que Miguel é Jesus, porém viam-no como o eterno e divino Filho, muito mais do que um simples anjo. No início do Século XIX, o erudito bíblico Joseph Benson declarou que a descrição de Miguel, conforme encontrada na Bíblia, "evidentemente indica o Messias". E. W. Hengstenberg, luterano do Século XIX, concordou que "Miguel não é outro senão Cristo". De modo similar, o teólogo J. P. Lange, comentando Revelação 12:7, escreveu: "Entendemos que Miguel, desde o começo, seja Cristo em traje guerreiro contra Satanás." Também Spurgeon e John Gill ensinaram essa interpretação.
Conceitos doutrinários - Argumentos contra a identificação de Miguel com Jesus
Imagem de Gustave Doré para a obra "O Paraíso Perdido" de John Milton representando Jesus Cristo a comandar as legiões celestes.Algumas igrejas cristãs trinitárias, consideram que, pelo fato de Miguel ser chamado de arcanjo, identificá-lo como o Filho de Deus rebaixa, de algum modo, a dignidade ou o posto de Jesus. Assim, rejeitando que ambos possam ser a mesma pessoa, apresentam como argumentos as seguintes premissas:
Jesus é criador (João 1:3); Miguel é criatura (Colossenses 1:16);
Jesus é Adorado por Miguel (Hebreus 1:6), Miguel não pode ser adorado (Apocalipse ou Revelação 22:8-9);
Jesus é o Senhor dos Senhores (Apocalipse ou Revelação 17:14); Miguel é príncipe(Daniel 10:13);
Jesus é Rei dos Reis (Apocalipse ou Revelação 17:14); Miguel é príncipe dos Judeus (Daniel 12:1);
Nenhum anjo alguma vez foi chamado por Deus como seu Filho (Hebreus 1:5-6);
O mundo não está submetido a nenhum anjo (Hebreus 2:5);
O Filho de Deus por antonomásia não assumiu jamais uma natureza angélica (Hebreus 2:16);
Os anjos jamais recebem adoração (Colossenses 2: 18; Apocalipse ou Revelação 19:10; 22:9); Jesus recebe adoração de:
anjos: Hebreus 1:6 (em isto a TNM estava de acordo desde 1950 até 1970);
dos discípulos: Lucas 24:52;
dos crentes: João 9;38;
dos santos na glória: Apocalipse ou Revelação 7:9-10;
eventualmente de todos: Filipenses 2:10-11; Mateus 9:18; 15:25;
DEUS não partilha a sua glória com ninguém (Isaías 42:8), Jesus, não um anjo, partilha da glória de DEUS desde antes que o mundo existisse (João 17:5);
Os anjos são servos desde a sua criação (Hebreus 1:14); Jesus assuimiu a condição de servo aquando da sua kénosis (Filipenses 2:7);
Somente ao nome de DEUS todo o joelho se dobrará: «"Por minha vida" - diz Jeová - "todo joelho se dobrará diante de mim e toda língua reconhecerá abertamente a Deus"» (Romanos 14:11 TNM); ao nome de Jesus todos dobrarão o seu joelho: «ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos no céu, e dos na terra, e dos debaixo do chão, e toda língua reconheça abertamente que Jesus Cristo é Senhor» (Filipenses 2:10-11 TNM);
Os anjos só podem estar em um único lugar pois a Bíblia jamais afirma que são omnipresentes; Jesus, pelo contrário, é «Aquele que em tudo preenche todas as coisas» (Efésios 1:23 TNM); «Aquele que ascendeu muito acima de todos os céus, para que desse plenitude a todas as coisas» (Efésios 4:10 TNM); e quem «Sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder» (Hebreus 1:3 TNM)»;
Em Daniel 10:13, Miguel é «um dos principais príncipes»; se fosse identificável com Jesus, pelo que já foi indicado mais acima, ter-se-ia dito «o principal príncipe»; mais: se Miguel é "um dos principais príncipes" e ele é apodado de "Arcanjo", podemos, com toda a certeza, ainda que a bíblia não lhes chame assim - «mas também jamais afirma que Jesus tinha dentes... e não obstante» [3] - saber que existem mais destas criaturas, ou seja, que Miguel não é o único Arcanjo, o que invalida algumas interpretações que tentam identificar Jesus com este anjo.
Histórica e cronologicamente falando, as teses interpretativas dos textos bíblicos mencionadas pelos que defendem que Miguel é um outro nome de Jesus, remontam ao Século IV quando foram propostas e defendidas, quase com as mesmas argumentações, na exposição cristológica de alguns discípulos e adeptos do presbítero alexandrino Ário.
Alguns mencionam a carta de Narciso de Neroníades, discípulo de Ário, ao comentar a maior obra do seu mestre, "Thalia", a Eusébio de Nicomédia, bispo da capital imperial e amigo de Constantino I. Segundo eles, essas linhas argumentativas são apresentadas para conciliarem as suas peculiares leituras bíblicas com as filosofias helenistas presentes no horizonte cultural do seu tempo [4] A mesma tese surge numa outra carta, agora de Eusébio de Nicomédia a Paulino de Tiro [5]
Na ocasião, as contra-argumentações que foram apresentadas para desmontar, e demonstrar a insustentabilidade, das teses dos filo-arianos, embora possam parecer aos olhos de hoje muito simples, não destoam da pouca profundidade crítica e teológica daquelas que lhes deram origem: além de uma clara rejeição de toda a angeolatria (Colossenses 2:18; Hebreus 1:14; 2:5; Apocalipse 19:10) como contrária a toda a revelação bíblica, estrutura-se, a referida crítica, em redor da contextualização da citação de Judas 1:9, a qual, afirmavam, é uma citação do livro apócrifo, não inspirado nem canónico, da "Assunção de Moisés" que se refereria a três (eventualmente quatro: Gabriel, Miguel, Rafael e Satã) arcanjos, deduzindo-se então que Miguel não seria o único arcanjo, pelo que a expressão "ο αρχαγγελος", num argumento corroborado pela construção sintáxica do texto original do citado livro apócrifo, nunca poderia ser um oposto a "Μιχαηλ". Referem-se, ainda, ao facto de não obstante somente no livro de Naum se dizer que é um livro de dado profeta ("sëper Házôn naHûm") não se poder, daí, "concluir que os restantes textos proféticos não sejam também livros proféticos" (página 284).
A respeito da tentativa de identificar Jesus com Miguel, por referência às citações comuns a ambos comandarem legiões celestes (Mateus 13:41; 16:27; 24:31; 1 Pedro 3:22), citam uma carta do próprio Ário que fala dos "presbíteros de Prólico (seu superior monástico)" e dos "presbíteros de Alexandre (seu bispo)" para mostrarem que não é pelo facto de nas duas únicas referências a "presbíteros de" se referirem a Prólico e a Alexandre que se pode identificar Alexandre com Prólico, pois "os presbíteros daquele são mais do que os deste, sem que passem a constituir dois corpos presbiterais, antes estando o de Prolico inserido no de Alexandre" (página 323). Analogamente, dizem os detractores clássicos da antiguidade acerca da tese da identificação de Miguel com Jesus, as "legiões de Cristo" são maiores do que as de Miguel, pois somente, ainda segundo o livro do Apocalipse e a carta de Judas, Miguel não assumiu o papel de juiz escatológico, deixando-o para Jesus Cristo, pois "apesar de votar Satã ao degredo, não o julga nem acusa nem condena" (página 316).
Por sinal, nesta carta, não é citada a passagem de Tessalonicenses, mas na contra-argumentação geral, aduz-se que "εν" mais dativo não é neste contexto construção modal ("com voz de..."), mas temporal ("à - quando se fizer ouvir a - voz de...") tal como em 1 Tessalonicenses 5:2.
Estas perspectivas dos críticos de Narciso e de Eusébio de Nicomédia são retomadas num dos maiores expoentes da literatura inglesa, O Paraíso Perdido de John Milton, segundo o qual, é somente após a intervenção de Cristo com as suas legiões de anjos que o combate iniciado pelo arcanjo Miguel se decide para o lado de Deus (canto VI).
Argumentos a favor da identificação de Miguel com Jesus
* Ponto de Vista das Denominações Cristãs não-Trinitariana
A denominação cristã, Testemunhas de Jeová, apresenta várias razões a favor da doutrina que identifica o Arcanjo Miguel como sendo o próprio Jesus Cristo. Alistam-se de seguida esses argumentos:
Quando Miguel se levantar, viverão os que estiverem com o nome no livro da vida (Dn. 12:1). Na volta de Cristo ocorrerá o mesmo (Ap. 3:5).
Miguel é chamado de “o Grande Príncipe” que está “a favor dos filhos do teu povo” (Dn. 12:1). Deus elevou Jesus “a Príncipe e Salvador”, para estar a favor dos Seus filhos, dando “o arrependimento e a remissão dos pecados.” (At. 5:31)
“Miguel, vosso Príncipe”, “se levanta a favor dos filhos do teu povo” (Dn. 10:21; 12:1). Cristo, “o príncipe da salvação deles” (Hb. 2:10), “o príncipe do teu povo” (At. 23:5).
Miguel recebe adoração (Js. 5:14). Adoração só a Deus pertence (Mt. 4:10).
E em 1Ts. 4:16 se lê: “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com a voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.”
* Ponto de Vista das Denominações Cristãs Trinitariana
Existem denominações cristãs trinitárias, que apresenta várias razões que identifica o Arcanjo Miguel como sendo o próprio Jesus Cristo. Entretanto, identificar Miguel com Jesus é um objetivo meramente informativo, pois este assunto não é considerado uma doutrina, nem tampouco é de grande importância para salvação do indivíduo. Os seguintes argumentos são apresentados:
Jesus é criador (João 1:3); Anjo é criatura (Colossenses 1:16);
Miguel é o único arcanjo mencionado na Bíblia (comandante dos anjos);
Jesus é adorado pelos Anjos (Hebreus 1:6), mas não por Miguel.
As únicas referências bíblicas para o nome Miguel foram mencionadas acima e são:
Daniel 10:13; Daniel 10:21; Daniel 12:1; Judas 9; Apocalipse ou Revelação 12:7
Nenhuma dessas referências apresenta Jesus sendo adorado por Miguel.
Os anjos não podem ser adorados (Apocalipse ou Revelação 22:8-9);
Mas não posso dizer que Miguel não pode ser adorado enquanto existir evidência de que se trata justamente da pessoa de Jesus;
Jesus é o Senhor dos Senhores (Apocalipse ou Revelação 17:14);
Jesus é o Príncipe da Paz (Isaias 9:6);
Miguel é um dos Primeiros Príncipes (Daniel 10:13);
Jesus é Rei dos Reis (Apocalipse ou Revelação 17:14) e Príncipe da Paz (Isaias 9:6);
Miguel é o Grande Príncipe (Daniel 12:1);
Miguel é o defensor dos filhos do teu povo;
Em Daniel 12:1, Miguel é apresentado como salvador;
Será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro (da vida);
Somente Jesus é Salvador (Atos 4:12);
Considerar Miguel sendo uma criatura (um anjo) é contraditório, pois uma criatura (um anjo) não pode ser Salvador.
O anjo Miguel nos manuscritos do Mar Morto
São Miguel luta contra o dragão, por Jean Fouquet.Desde a publicação, em 1991, da quase totalidade dos textos descobertos no deserto da Judeia, comummente conhecidos como os manuscritos do Mar Morto, que o estudo acerca da angeologia judaica sectária e extra-bíblica teve um grande desenvolvimento.
Nestes textos, numa perspectiva que viria a ser recuperada pelos movimentos gnósticos do Século I, Miguel é apresentado como a figura celestial de Melquisedeque exaltado, elevado aos céus. É similarmente referido como o "príncipe da luz", conforme 11Q13, que dará combate ao "príncipe das trevas", Satã, Belial ou Melkireshah (o príncipe das profundezas da Terra). Este confronto dar-se-á aquando da grande batalha celeste que antecederá o fim dos tempos e a nova vinda do fundador da comunidade essênia, o "Mestre da Justiça", como Messias escatológico.
Neste contexto, e numa descrição profundamente ambivalente, em 4Q529 e 6Q23 o triunfo definitivo da paz não lhe é atribuído, conforme alguns depreendem de Judas 1:9, acima transcrito, onde Miguel recusa a função de juiz escatológico, mas apenas é o seu arqui-estratega. Miguel recusa inclusive o título de "Senhor" e de "Salvador", ao mesmo tempo que, segundo 4Q246, aguarda que, tal como o seu modelo histórico apresentado neste texto, Antíoco Epifânio, se possa autoproclamar "um deus" e ser adorado como deus, tal como aquele em Daniel 11:36-37.
Para outros, segundo a interpretação que fazem de alguns dos manuscritos do Mar Morto, Miguel é mesmo apresentado como o grande usurpador do senhorio de Deus numa opinião que, com alguns matizes, é idêntica à de movimentos para-cristãos nascidos no Século XIX. Segundo aquela referida interpretação, Miguel louvaria o malquisto rei Sedecias, referido em 2 Reis 24:19, prometendo-lhe, inclusive, uma aliança para que este leve a bom termo os seus planos malévolos.
Em síntese, a angeologia apresentada pela interpretação destes textos não é homogénea, mas aduz um grande leque de orientações desde as menos negativas como as que consideram Miguel como Melquisedeque exaltado, mas com desejos de ser adorado, até às profundamente negativas, as que o concebem como próximo do malévolo rei Sedecias. Nos primeiros séculos da nossa era, esta literatura teve muita influência em círculos gnósticos vindos do helenismo platonizado na medida em que a sua falta de clareza e a ambiguidade esotérica, quase a roçar o paganismo (de facto, tais perspectivas jamais poderiam ser tidas como inspiradas, quer pelo judaísmo, quer pelo cristianismo), serviu plenamente os seus intuitos de estabelecerem pontes de contacto com o crescente influxo cultural do cristianismo e, assim, não perderem a sua importância religiosa.
Perspectivas mitológicas
Arcanjo Miguel, por Simon Ushakov.De acordo com alguma angeologia inter-testamentária heterodoxa ("Revelação de Satanás" e "Ascenção de Melquisedec"), retomada posteriormente por cristão gnósticos - que não admitiam que Deus pudesse na verdade ter tocado, andado e vivido num mundo que consideravam perverso e diabólico - e cultos pagãos mistéricos da bacia do Mediterrâneo Oriental - que se serviram desta figura que tão poucas vezes aparece nomeada na Bíblia para estabelecerem pontes com cristãos menos formados -, o Anjo Miguel - "malach Micha'el" - ou o Justo Miguel - "sedek Micha'el" -; não era senão Melquisedeque "Mal'ch sedek" exaltado, glorificado, não sendo, pois, identificável como uma criatura primogénita.
Para estes movimentos que orbitavam o cristianismo primitivo, profundamente influenciados pela corrente filosófica do platonismo - que concebia a sua cosmologia como uma contínua estratificação de seres intermédios entre um demiurgo impotente e indiferente para com a humanidade e a sua criação - "sedek Micha'el" seria a figura do justo por excelência, aquele que, segundo Platão, morreria crucificado.
Misturando esta convicção filosófica com correntes cristãs heterodoxas, passaram a acreditar que, quem morrera na cruz, sob Pôncio Pilatos, afinal não fora senão Melquisedeque sob a aparência de Jesus de Nazaré que, na verdade, segundo estes, jamais existira. Para estes "sedek Micha'el", enquanto andou sobre a Terra debaixo da aparência de Jesus de Nazaré, jamais fora verdadeiramente homem, rejeitando terminantemente que ele tivesse tido a necessidade de comer, beber, dormir, expressar emoções ou realizar necessidades fisiológias pois, se assim não fosse, não teria podido ser um anjo, isto é, um ser puramente espiritual.
Estas convicções, imensamente influenciadas pelas angeologias pagãs e esotéricas que pululavam no Mediterrâneo Oriental, são hoje totalmente tidas como miticas e desprovidas de qualquer valor histórico, embora continuem a formar o pano de fundo para muitas correntes religiosas que tiveram o seu impulso inicial em William Miller. Independentemente da história que rodeia esta figura - e de toda a polémica que surgiu em redor do grande desapontamento acerca do dia que o mesmo previu ser o da vinda definitiva de Jesus/Melquisedeque, com a posterior criação de inumeras teorias da conspiração que geraram uma história, uma politica e uma sociologia paralela e alternativa - a verdade é que a sua impar capacidade de reler estas tradições para o seu tempo, marcaram profundamente milhares de pessoas que, descontente com a realidade e incapazes de viverem nela, nas suas perspectivas miticas e neo-pagãs - num verdadeiro "proto-New Age", ou "New Age avant la lettre" -, misturadas com um cristianismo débil que conheceiam e apreenderam, encontraram uma nova "fuga mundi" escapista.
Referências:
(em inglês) Artigo sobre o Arcanjo Miguel na The Catholic Encyclopedia
Verbete Miguel na obra Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 2, página 828
Gordon Kaufman - "Systematic Theology: A Historicist Perspective", p. 94
Esta obra está citada e comentada, com a apresentação das contra-argumentações, em H. G. Optiz – "Athanasius Werke, III, 1: Urkunden zur Geschichte der arianischen Streits", Berlim. Obra citada e comentada com as contra-argumentações dos teólogos de então em F. Paschke - "Überlieferungsgeschichtliche Untersuchungen", Berlim.
Significado do nome
O significado é motivo de debate. A maioria das denominações cristãs entendem que o nome deverá ser traduzido em forma inquisitiva, tal como "Quem é como Deus?"[1] ou "Quem é semelhante a Deus?"[2] . Outros defendem que seja uma afirmação: "Aquele que é como Deus", argumentando que o sufixo "el", que significa "Deus", é usado em outros nomes bíblicos em forma de afirmação, tal como em Daniel ("Meu juiz é Deus"), Emanuel ("Connosco está Deus"), Ezequiel ("A força de Deus"), Samuel ("Nome de Deus") ou Gamaliel ("Recompensa de Deus"). Esta última interpretação é, segundo distintos peritos, tal como se refere mais acima, posta em causa pela própria Bíblia, quando a mesma nega que haja quem seja como Deus (cf., por exemplo, Salmo 35:10; 89:8), donde, pela própria configuração do nome "Miguel", o mais certo é que o mesmo deva ser traduzido como sendo uma questão.
Referências na Bíblia
O nome Miguel é escassamente referido na Bíblia, surgindo apenas nos versículos baixo, segundo a tradução A Bíblia de Jerusalém:
Daniel 10:13
"O Príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias, mas Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu auxílio"
Daniel 10:21
"Ninguém me presta auxílio para estas coisas senão Miguel, vosso Príncipe."
Daniel 12:1
"Nesse tempo levantar-se-á Miguel, o grande Príncipe, que se conserva junto dos filhos do teu povo. Será um tempo de tal angústia qual jamais terá havido até aquele tempo, desde que as nações existem. Mas nesse tempo o teu povo escapará, isto é, todos os que se encontrarem inscritos no Livro."
Judas 9
"E, no entanto, o arcanjo Miguel, quando disputava com o diabo, discutindo a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a pronunciar uma sentença injuriosa contra ele, mas limitou-se a dizer: O Senhor te repreenda!"
Apocalipse ou Revelação 12:7
"Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus Anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais um lugar para eles no céu."
Nos apócrifos
No livro de Enoque Miguel é designado como o príncipe de Israel. No livro dos Jubileus, ele é retratado como o anjo que instruiu Moisés na Torá. Nos Manuscritos do Mar Morto é retratado lutando contra Beliel.
Definição da Igreja Católica e do Protestantismo
A vitória de São Miguel sobre o demónio, escultura por Sir Jacob Epstein perto da entrada da Catedral de Coventry, no Reino Unido.Miguel, o Arcanjo, é considerado o chefe dos exércitos celestiais e o padroeiro da Igreja Católica. É o anjo do arrependimento e da justiça. É comemorado pela Igreja Católica, sob o nome de São Miguel Arcanjo em 29 de setembro.
O Catolicismo mantém uma considerável devoção por São Miguel Arcanjo, especialmente demonstrada nas situações em que são efectuados pedidos de livramento dos seus fiéis contra ciladas do demônio e dos espíritos maléficos. Acredita ainda que, durante as orações, e quando o nome do arcanjo é invocado, este defenderá os crentes, com o grande poder que Deus lhe concedeu, protegendo-os contra os perigos, as forças do mal e os inimigos.
A escassa referência das Escrituras à pessoa de Miguel é considerado por alguns como uma demonstração de discrição ou importância relativa que envolve a sua figura. Nas menções efectuadas no livro de Daniel, os teólogos dividem-se acerca da interpretação dessas passagens. Alguns crêem ver neste Miguel aquele que mais tarde Judas designa por "Arcanjo". A maioria, porém, acredita que nestes versículos, Miguel é apenas uma figura que, de acordo com a crítica bíblica, é proveniente da mitologia Persa com a qual o povo Hebreu contactou aquando do seu Exílio na Babilónia e não identificável com o Anjo com o mesmo nome.
Na referência de Judas, alguns entendem que não é atribuída a Miguel a faculdade de juiz escatológico, reservada a Deus e ao seu Messias, na medida em que ele entrega o Diabo ao juízo de Deus. Nem para os católicos nem para os protestantes é aceite a interpretação, feita por algumas denominações religiosas que se afirmam cristãs, de que neste texto se trataria do Filho de Deus antes de lhe ser dada autoridade régia visto que, segundo algumas teses destas denominações, esta passagem relembraria um acontecimento muito anterior à época em que Jesus veio à Terra e foi posteriormente ressuscitado. Na realidade católicos e protestantes, a respeito desta última hipótese, contrapõem "que este combate descrito ("related") neste livro, que de acordo com a sintática rigorosa do texto (nomeadamente o uso da construção οτε ("ote") mais dativo seguido de περι ("peri") mais genitivo neutro) não é situável num tempo passado e que, assim, ainda não ocorreu em seu sentido pleno. [...] O resgate ("recovery") do corpo "soma", e não do cadáver, de Moisés referido no texto não é senão aquele que ocorrerá no futuro escatológico" (Geerhardus Vos, "Biblical Theology", p. 121-123). De igual modo, acrescenta este autor, "a referência a verbos em tempos passados - "διακρινομενος" ("diakrinomenos": "contendia"), "διελeγeτο" ("dielegeto": "disputava") e "ουκ etoλμησeν eπeνeγκeιν" ("ouk etolmesen epevegkein": "não ousou pronunciar") - provém do facto de este versículo ser a citação de um texto apócrifo de natureza apocaliptico-visonária onde o autor (como todos os autores deste género literário), imaginando-se como tendo sido transportado até ao fim dos tempos, olha para trás ("backwards") para acontecimentos supra-temporais (isto é, posteriores ao fim dos tempos) "anteriores" à consumação final" (Geerhardus Vos, "Biblical Theology", p. 122).
Outras perspectivas religiosas
O arcanjo Miguel representado numa moeda bizantina.Ao contrário das posições acima referidas, algumas denominações religiosas, que também se intitulam cristãs, identificam Miguel como sendo o próprio Jesus Cristo ou como uma representação dele. O raciocínio que os leva a crer que Miguel é apenas um outro nome para Jesus Cristo, baseia-se nas seguintes premissas:
Arcanjo
Na carta de Judas, no versículo 9, Miguel é designado como "o arcanjo" termo que significa "anjo principal". Esta é a única ocorrência bíblica de alguém ser chamado de "o arcanjo" o que, segundo alguns, sugere que existe apenas um anjo assim. De facto, a palavra "arcanjo" ocorre na Bíblia apenas no singular, nunca no plural. Além disto, o cargo de arcanjo se relaciona com Jesus. Sobre o ressuscitado Senhor Jesus Cristo, 1 Tessalonicenses 4:16 diz:
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu, com alarido e com voz de arcanjo." (Tradução J. F. Almeida)
A voz de Jesus é descrita aqui como sendo a voz de arcanjo. Portanto, para alguns, esse texto indica que o próprio Jesus é o arcanjo Miguel, pois, na sua interpretação, aquele a quem foi designado o dever de ressuscitar os fiéis mortos, não desceria do céu com uma voz que expressasse uma autoridade menor do que a que realmente teria. Ou seja, sendo Jesus o próprio Deus e, portanto, superior a um arcanjo, esta declaração bíblica o compararia com uma criatura inferior. Assim, argumentam, o versículo apresenta a Jesus como sendo realmente o arcanjo, ou anjo principal, com autoridade acima de todas as criaturas.
Líder militar
Segundo os textos bíblicos, Miguel e seus anjos batalharam contra o dragão e seus anjos. (Revelação ou Apocalipse 12:7), de modo que Miguel é descrito ali como o líder de um exército de anjos fiéis. O mesmo livro também se refere a Jesus como líder de um exército de anjos fiéis, no capítulo 19, versículos 14 a 16, sendo que o apóstolo Paulo menciona especificamente o "Senhor Jesus" e os "seus anjos poderosos" (2 Tessalonicenses 1:7), pelo que é possível concluir que, na Bíblia, existem referências tanto de Miguel e "seus anjos" como de Jesus e "seus anjos". (Mateus 13:41; 16:27; 24:31; 1 Pedro 3:22)
No entanto, e uma vez que nos textos bíblicos em nenhuma parte é indicada a existência de dois exércitos de anjos fiéis no céu, um comandado por Miguel e outro por Jesus, existem observadores que sugerem a conclusão de que Miguel não é outro senão o próprio Jesus Cristo na sua posição celestial.
Esta conclusão, não obstante, é tida como sendo muito débil por um não menor número de peritos que afirmam que em nenhuma parte, nos textos bíblicos, se nega a referida existência de dois exercitos - Christoph Blumhardt - "Vom Reich Gottes. Aus Predigten und Andachten", p. 137 - ou que sejam um mesmo exercito «com dois chefes, um dos quais - Miguel - subordinado ao outro - Jesus -, tal como dá a entender o facto de ter sido Deus e não Miguel a condenar Satanás» - Paul Kleinert - "Die Propheten Israels in sozialer Bezichung", p. 78 -.
Entretanto, esta referência bíblica (Judas 9) de Deus (supostamente o Pai) e não Miguel (supostamente o Filho) repreendendo Satanás "O Senhor te repreenda" não é a única na Bíblia. Encontramos em Zacarias 3:2 o seguinte texto: "Mas o SENHOR disse a Satanás: - O SENHOR te repreende, ó Satanás; sim, o SENHOR, que escolheu a Jerusalém, te repreende".
Aqui em Zacarias 3:1 menciona o Anjo do SENHOR. Trata-se do próprio Deus. O mesmo título dado a Deus como "Anjo do SENHOR" é dado em Gênisis 22:15. Isto leva a crer que a sugestão de que Miguel é Jesus Cristo não é tida como sendo tão débil.
Com base nestes argumentos algumas denominações cristãs desenvolveram as seguintes doutrinas:
A denominação cristã não trinitária das Testemunhas de Jeová, acredita que Jesus e Miguel são a mesma pessoa, a primeira a ser criada directa e exclusivamente por Deus. Crê também que o nome "Jesus" foi usado na terra por aquele que já existia no céu na posição de Arcanjo, sendo que nesta posição celestial gloriosa teria o nome de Miguel. Segundo as suas doutrinas, as Testemunhas não aprovam a adoração de qualquer criatura ou ser terrestre ou celestial, crendo que a devoção dever ser dirigida em exclusivo ao Criador.
Os adventistas crêem também que Miguel é Jesus, Ellen White, assim como os demais fundadores da IASD acreditaram na doutrina trinitária. Atualmente os adventistas crêem em Miguel sendo Jesus plenamente Deus, ja que a trindade se tornou a doutrina oficial da igreja.
Muitos outros téologos protestantes também ensinavam que Miguel é Jesus, porém viam-no como o eterno e divino Filho, muito mais do que um simples anjo. No início do Século XIX, o erudito bíblico Joseph Benson declarou que a descrição de Miguel, conforme encontrada na Bíblia, "evidentemente indica o Messias". E. W. Hengstenberg, luterano do Século XIX, concordou que "Miguel não é outro senão Cristo". De modo similar, o teólogo J. P. Lange, comentando Revelação 12:7, escreveu: "Entendemos que Miguel, desde o começo, seja Cristo em traje guerreiro contra Satanás." Também Spurgeon e John Gill ensinaram essa interpretação.
Conceitos doutrinários - Argumentos contra a identificação de Miguel com Jesus
Imagem de Gustave Doré para a obra "O Paraíso Perdido" de John Milton representando Jesus Cristo a comandar as legiões celestes.Algumas igrejas cristãs trinitárias, consideram que, pelo fato de Miguel ser chamado de arcanjo, identificá-lo como o Filho de Deus rebaixa, de algum modo, a dignidade ou o posto de Jesus. Assim, rejeitando que ambos possam ser a mesma pessoa, apresentam como argumentos as seguintes premissas:
Jesus é criador (João 1:3); Miguel é criatura (Colossenses 1:16);
Jesus é Adorado por Miguel (Hebreus 1:6), Miguel não pode ser adorado (Apocalipse ou Revelação 22:8-9);
Jesus é o Senhor dos Senhores (Apocalipse ou Revelação 17:14); Miguel é príncipe(Daniel 10:13);
Jesus é Rei dos Reis (Apocalipse ou Revelação 17:14); Miguel é príncipe dos Judeus (Daniel 12:1);
Nenhum anjo alguma vez foi chamado por Deus como seu Filho (Hebreus 1:5-6);
O mundo não está submetido a nenhum anjo (Hebreus 2:5);
O Filho de Deus por antonomásia não assumiu jamais uma natureza angélica (Hebreus 2:16);
Os anjos jamais recebem adoração (Colossenses 2: 18; Apocalipse ou Revelação 19:10; 22:9); Jesus recebe adoração de:
anjos: Hebreus 1:6 (em isto a TNM estava de acordo desde 1950 até 1970);
dos discípulos: Lucas 24:52;
dos crentes: João 9;38;
dos santos na glória: Apocalipse ou Revelação 7:9-10;
eventualmente de todos: Filipenses 2:10-11; Mateus 9:18; 15:25;
DEUS não partilha a sua glória com ninguém (Isaías 42:8), Jesus, não um anjo, partilha da glória de DEUS desde antes que o mundo existisse (João 17:5);
Os anjos são servos desde a sua criação (Hebreus 1:14); Jesus assuimiu a condição de servo aquando da sua kénosis (Filipenses 2:7);
Somente ao nome de DEUS todo o joelho se dobrará: «"Por minha vida" - diz Jeová - "todo joelho se dobrará diante de mim e toda língua reconhecerá abertamente a Deus"» (Romanos 14:11 TNM); ao nome de Jesus todos dobrarão o seu joelho: «ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos no céu, e dos na terra, e dos debaixo do chão, e toda língua reconheça abertamente que Jesus Cristo é Senhor» (Filipenses 2:10-11 TNM);
Os anjos só podem estar em um único lugar pois a Bíblia jamais afirma que são omnipresentes; Jesus, pelo contrário, é «Aquele que em tudo preenche todas as coisas» (Efésios 1:23 TNM); «Aquele que ascendeu muito acima de todos os céus, para que desse plenitude a todas as coisas» (Efésios 4:10 TNM); e quem «Sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder» (Hebreus 1:3 TNM)»;
Em Daniel 10:13, Miguel é «um dos principais príncipes»; se fosse identificável com Jesus, pelo que já foi indicado mais acima, ter-se-ia dito «o principal príncipe»; mais: se Miguel é "um dos principais príncipes" e ele é apodado de "Arcanjo", podemos, com toda a certeza, ainda que a bíblia não lhes chame assim - «mas também jamais afirma que Jesus tinha dentes... e não obstante» [3] - saber que existem mais destas criaturas, ou seja, que Miguel não é o único Arcanjo, o que invalida algumas interpretações que tentam identificar Jesus com este anjo.
Histórica e cronologicamente falando, as teses interpretativas dos textos bíblicos mencionadas pelos que defendem que Miguel é um outro nome de Jesus, remontam ao Século IV quando foram propostas e defendidas, quase com as mesmas argumentações, na exposição cristológica de alguns discípulos e adeptos do presbítero alexandrino Ário.
Alguns mencionam a carta de Narciso de Neroníades, discípulo de Ário, ao comentar a maior obra do seu mestre, "Thalia", a Eusébio de Nicomédia, bispo da capital imperial e amigo de Constantino I. Segundo eles, essas linhas argumentativas são apresentadas para conciliarem as suas peculiares leituras bíblicas com as filosofias helenistas presentes no horizonte cultural do seu tempo [4] A mesma tese surge numa outra carta, agora de Eusébio de Nicomédia a Paulino de Tiro [5]
Na ocasião, as contra-argumentações que foram apresentadas para desmontar, e demonstrar a insustentabilidade, das teses dos filo-arianos, embora possam parecer aos olhos de hoje muito simples, não destoam da pouca profundidade crítica e teológica daquelas que lhes deram origem: além de uma clara rejeição de toda a angeolatria (Colossenses 2:18; Hebreus 1:14; 2:5; Apocalipse 19:10) como contrária a toda a revelação bíblica, estrutura-se, a referida crítica, em redor da contextualização da citação de Judas 1:9, a qual, afirmavam, é uma citação do livro apócrifo, não inspirado nem canónico, da "Assunção de Moisés" que se refereria a três (eventualmente quatro: Gabriel, Miguel, Rafael e Satã) arcanjos, deduzindo-se então que Miguel não seria o único arcanjo, pelo que a expressão "ο αρχαγγελος", num argumento corroborado pela construção sintáxica do texto original do citado livro apócrifo, nunca poderia ser um oposto a "Μιχαηλ". Referem-se, ainda, ao facto de não obstante somente no livro de Naum se dizer que é um livro de dado profeta ("sëper Házôn naHûm") não se poder, daí, "concluir que os restantes textos proféticos não sejam também livros proféticos" (página 284).
A respeito da tentativa de identificar Jesus com Miguel, por referência às citações comuns a ambos comandarem legiões celestes (Mateus 13:41; 16:27; 24:31; 1 Pedro 3:22), citam uma carta do próprio Ário que fala dos "presbíteros de Prólico (seu superior monástico)" e dos "presbíteros de Alexandre (seu bispo)" para mostrarem que não é pelo facto de nas duas únicas referências a "presbíteros de" se referirem a Prólico e a Alexandre que se pode identificar Alexandre com Prólico, pois "os presbíteros daquele são mais do que os deste, sem que passem a constituir dois corpos presbiterais, antes estando o de Prolico inserido no de Alexandre" (página 323). Analogamente, dizem os detractores clássicos da antiguidade acerca da tese da identificação de Miguel com Jesus, as "legiões de Cristo" são maiores do que as de Miguel, pois somente, ainda segundo o livro do Apocalipse e a carta de Judas, Miguel não assumiu o papel de juiz escatológico, deixando-o para Jesus Cristo, pois "apesar de votar Satã ao degredo, não o julga nem acusa nem condena" (página 316).
Por sinal, nesta carta, não é citada a passagem de Tessalonicenses, mas na contra-argumentação geral, aduz-se que "εν" mais dativo não é neste contexto construção modal ("com voz de..."), mas temporal ("à - quando se fizer ouvir a - voz de...") tal como em 1 Tessalonicenses 5:2.
Estas perspectivas dos críticos de Narciso e de Eusébio de Nicomédia são retomadas num dos maiores expoentes da literatura inglesa, O Paraíso Perdido de John Milton, segundo o qual, é somente após a intervenção de Cristo com as suas legiões de anjos que o combate iniciado pelo arcanjo Miguel se decide para o lado de Deus (canto VI).
Argumentos a favor da identificação de Miguel com Jesus
* Ponto de Vista das Denominações Cristãs não-Trinitariana
A denominação cristã, Testemunhas de Jeová, apresenta várias razões a favor da doutrina que identifica o Arcanjo Miguel como sendo o próprio Jesus Cristo. Alistam-se de seguida esses argumentos:
Quando Miguel se levantar, viverão os que estiverem com o nome no livro da vida (Dn. 12:1). Na volta de Cristo ocorrerá o mesmo (Ap. 3:5).
Miguel é chamado de “o Grande Príncipe” que está “a favor dos filhos do teu povo” (Dn. 12:1). Deus elevou Jesus “a Príncipe e Salvador”, para estar a favor dos Seus filhos, dando “o arrependimento e a remissão dos pecados.” (At. 5:31)
“Miguel, vosso Príncipe”, “se levanta a favor dos filhos do teu povo” (Dn. 10:21; 12:1). Cristo, “o príncipe da salvação deles” (Hb. 2:10), “o príncipe do teu povo” (At. 23:5).
Miguel recebe adoração (Js. 5:14). Adoração só a Deus pertence (Mt. 4:10).
E em 1Ts. 4:16 se lê: “Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com a voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.”
* Ponto de Vista das Denominações Cristãs Trinitariana
Existem denominações cristãs trinitárias, que apresenta várias razões que identifica o Arcanjo Miguel como sendo o próprio Jesus Cristo. Entretanto, identificar Miguel com Jesus é um objetivo meramente informativo, pois este assunto não é considerado uma doutrina, nem tampouco é de grande importância para salvação do indivíduo. Os seguintes argumentos são apresentados:
Jesus é criador (João 1:3); Anjo é criatura (Colossenses 1:16);
Miguel é o único arcanjo mencionado na Bíblia (comandante dos anjos);
Jesus é adorado pelos Anjos (Hebreus 1:6), mas não por Miguel.
As únicas referências bíblicas para o nome Miguel foram mencionadas acima e são:
Daniel 10:13; Daniel 10:21; Daniel 12:1; Judas 9; Apocalipse ou Revelação 12:7
Nenhuma dessas referências apresenta Jesus sendo adorado por Miguel.
Os anjos não podem ser adorados (Apocalipse ou Revelação 22:8-9);
Mas não posso dizer que Miguel não pode ser adorado enquanto existir evidência de que se trata justamente da pessoa de Jesus;
Jesus é o Senhor dos Senhores (Apocalipse ou Revelação 17:14);
Jesus é o Príncipe da Paz (Isaias 9:6);
Miguel é um dos Primeiros Príncipes (Daniel 10:13);
Jesus é Rei dos Reis (Apocalipse ou Revelação 17:14) e Príncipe da Paz (Isaias 9:6);
Miguel é o Grande Príncipe (Daniel 12:1);
Miguel é o defensor dos filhos do teu povo;
Em Daniel 12:1, Miguel é apresentado como salvador;
Será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro (da vida);
Somente Jesus é Salvador (Atos 4:12);
Considerar Miguel sendo uma criatura (um anjo) é contraditório, pois uma criatura (um anjo) não pode ser Salvador.
O anjo Miguel nos manuscritos do Mar Morto
São Miguel luta contra o dragão, por Jean Fouquet.Desde a publicação, em 1991, da quase totalidade dos textos descobertos no deserto da Judeia, comummente conhecidos como os manuscritos do Mar Morto, que o estudo acerca da angeologia judaica sectária e extra-bíblica teve um grande desenvolvimento.
Nestes textos, numa perspectiva que viria a ser recuperada pelos movimentos gnósticos do Século I, Miguel é apresentado como a figura celestial de Melquisedeque exaltado, elevado aos céus. É similarmente referido como o "príncipe da luz", conforme 11Q13, que dará combate ao "príncipe das trevas", Satã, Belial ou Melkireshah (o príncipe das profundezas da Terra). Este confronto dar-se-á aquando da grande batalha celeste que antecederá o fim dos tempos e a nova vinda do fundador da comunidade essênia, o "Mestre da Justiça", como Messias escatológico.
Neste contexto, e numa descrição profundamente ambivalente, em 4Q529 e 6Q23 o triunfo definitivo da paz não lhe é atribuído, conforme alguns depreendem de Judas 1:9, acima transcrito, onde Miguel recusa a função de juiz escatológico, mas apenas é o seu arqui-estratega. Miguel recusa inclusive o título de "Senhor" e de "Salvador", ao mesmo tempo que, segundo 4Q246, aguarda que, tal como o seu modelo histórico apresentado neste texto, Antíoco Epifânio, se possa autoproclamar "um deus" e ser adorado como deus, tal como aquele em Daniel 11:36-37.
Para outros, segundo a interpretação que fazem de alguns dos manuscritos do Mar Morto, Miguel é mesmo apresentado como o grande usurpador do senhorio de Deus numa opinião que, com alguns matizes, é idêntica à de movimentos para-cristãos nascidos no Século XIX. Segundo aquela referida interpretação, Miguel louvaria o malquisto rei Sedecias, referido em 2 Reis 24:19, prometendo-lhe, inclusive, uma aliança para que este leve a bom termo os seus planos malévolos.
Em síntese, a angeologia apresentada pela interpretação destes textos não é homogénea, mas aduz um grande leque de orientações desde as menos negativas como as que consideram Miguel como Melquisedeque exaltado, mas com desejos de ser adorado, até às profundamente negativas, as que o concebem como próximo do malévolo rei Sedecias. Nos primeiros séculos da nossa era, esta literatura teve muita influência em círculos gnósticos vindos do helenismo platonizado na medida em que a sua falta de clareza e a ambiguidade esotérica, quase a roçar o paganismo (de facto, tais perspectivas jamais poderiam ser tidas como inspiradas, quer pelo judaísmo, quer pelo cristianismo), serviu plenamente os seus intuitos de estabelecerem pontes de contacto com o crescente influxo cultural do cristianismo e, assim, não perderem a sua importância religiosa.
Perspectivas mitológicas
Arcanjo Miguel, por Simon Ushakov.De acordo com alguma angeologia inter-testamentária heterodoxa ("Revelação de Satanás" e "Ascenção de Melquisedec"), retomada posteriormente por cristão gnósticos - que não admitiam que Deus pudesse na verdade ter tocado, andado e vivido num mundo que consideravam perverso e diabólico - e cultos pagãos mistéricos da bacia do Mediterrâneo Oriental - que se serviram desta figura que tão poucas vezes aparece nomeada na Bíblia para estabelecerem pontes com cristãos menos formados -, o Anjo Miguel - "malach Micha'el" - ou o Justo Miguel - "sedek Micha'el" -; não era senão Melquisedeque "Mal'ch sedek" exaltado, glorificado, não sendo, pois, identificável como uma criatura primogénita.
Para estes movimentos que orbitavam o cristianismo primitivo, profundamente influenciados pela corrente filosófica do platonismo - que concebia a sua cosmologia como uma contínua estratificação de seres intermédios entre um demiurgo impotente e indiferente para com a humanidade e a sua criação - "sedek Micha'el" seria a figura do justo por excelência, aquele que, segundo Platão, morreria crucificado.
Misturando esta convicção filosófica com correntes cristãs heterodoxas, passaram a acreditar que, quem morrera na cruz, sob Pôncio Pilatos, afinal não fora senão Melquisedeque sob a aparência de Jesus de Nazaré que, na verdade, segundo estes, jamais existira. Para estes "sedek Micha'el", enquanto andou sobre a Terra debaixo da aparência de Jesus de Nazaré, jamais fora verdadeiramente homem, rejeitando terminantemente que ele tivesse tido a necessidade de comer, beber, dormir, expressar emoções ou realizar necessidades fisiológias pois, se assim não fosse, não teria podido ser um anjo, isto é, um ser puramente espiritual.
Estas convicções, imensamente influenciadas pelas angeologias pagãs e esotéricas que pululavam no Mediterrâneo Oriental, são hoje totalmente tidas como miticas e desprovidas de qualquer valor histórico, embora continuem a formar o pano de fundo para muitas correntes religiosas que tiveram o seu impulso inicial em William Miller. Independentemente da história que rodeia esta figura - e de toda a polémica que surgiu em redor do grande desapontamento acerca do dia que o mesmo previu ser o da vinda definitiva de Jesus/Melquisedeque, com a posterior criação de inumeras teorias da conspiração que geraram uma história, uma politica e uma sociologia paralela e alternativa - a verdade é que a sua impar capacidade de reler estas tradições para o seu tempo, marcaram profundamente milhares de pessoas que, descontente com a realidade e incapazes de viverem nela, nas suas perspectivas miticas e neo-pagãs - num verdadeiro "proto-New Age", ou "New Age avant la lettre" -, misturadas com um cristianismo débil que conheceiam e apreenderam, encontraram uma nova "fuga mundi" escapista.
Referências:
(em inglês) Artigo sobre o Arcanjo Miguel na The Catholic Encyclopedia
Verbete Miguel na obra Estudo Perspicaz das Escrituras, Volume 2, página 828
Gordon Kaufman - "Systematic Theology: A Historicist Perspective", p. 94
Esta obra está citada e comentada, com a apresentação das contra-argumentações, em H. G. Optiz – "Athanasius Werke, III, 1: Urkunden zur Geschichte der arianischen Streits", Berlim. Obra citada e comentada com as contra-argumentações dos teólogos de então em F. Paschke - "Überlieferungsgeschichtliche Untersuchungen", Berlim.